quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

25 ANOS DE VIDA RELIGIOSA


Era um dia quente, eu morava em São Paulo. Já era fim de tarde; após algumas atividades, entrei no meu quarto, soltei-me na poltrona e suspirei angustiado, como quem carregava uma montanha nas costas. O peso já vinha de muito tempo, mas os compromissos de fim do ano pesavam ainda mais os meus dias. Na penumbra das dores da alma, despojei-me das armaduras da função de Formador e ousei questionar Deus: Deus, onde estais? Eu já não consigo mais continuar! É por demais o meu cansaço! Muitos pedem e recebem, e eu...? Até quando suportar a fadiga de algo que já não consigo mais carregar? Ali sentado, cochilei, enquanto aguardava a hora da missa. O ano de 2021 foi o mais difícil que vivi. Por isso foi o ano da graça!

Os dias passaram e Deus não passou, continuou a caminhar comigo. Hoje, estou celebrando os 25 de vida religiosa Redentorista.  Celebrar um Jubileu é celebrar o tempo da Graça de Deus, rememorar os Seu braço poderoso agindo na história, Sua mão amiga conduzindo o caminho. Hoje é dia de olhar a história com o olhar da fé! Permanecer 25 anos na vida Redentorista só foi possível por que Deus é bom e misericordioso.

Mas o início dessa história vocacional está na minha infância em Palmeira dos Índios. Desde pequeno Deus vinha me provando para capacitar-me. Meus pais, Seu João Paciência e Dona Maria José, eram muito pobres e na década de 70 quando nasci, a mortalidade infantil assolava o Nordeste brasileiro. Em Alagoas, terra do coronelismo e da lei do mais forte, a corrupção, a fome e as doenças vitimavam muitas crianças. Eu fui um dos que resistiram. Desde pequeno, ardia em meu coração o desejo de ser Padre. Mas, continuar os estudos e ter acesso ao conhecimento não devia ser sonho dos pobres. Pela graça de Deus, tive o auxílio da Irmã Bernadete (de saudosa memória), religiosa holandesa da Congregação das Irmãs Missionárias de Santo Antônio; dois anos depois, saí da casa dos meus pais no povoado Serra da Mandioca e fui morar num colégio interno em Igaci-AL. A CCA (Casa Carinho e Alimento), fundada pelo Pe. Luiz Farias Torres. Ali, comecei a segunda etapa da minha vida. Ao terminar o antigo curso Pedagógico, com o coração cheio de sonhos juvenis e muita ousadia, juntei-me a três amigos e fui tentar a “sorte” em São Paulo. Sofremos fome, frio, insegurança, preconceitos, mas conseguimos trabalho. Meu primeiro emprego como Porteiro não me impediu de manter acesa a chama da vocação e o desejo de aprofundar a minha vida nos mistérios de Deus e da Igreja.


Comecei minha caminhada formativa no Seminário Santíssimo Redentor em 1993, em Sacramento-MG, exatamente Há 30 anos. Foi aí que descobri a graça de ser mineiro. Após seis anos de estudos e discernimento, professei os Votos de Castidade, Pobreza e Obediência, assumindo a espiritualidade Redentorista. Era 25 de janeiro de 1998. Mas, o desafio mais importante veio depois: permanecer, perseverar é o desafio diário de toda pessoa batizada e de todo missionário Redentorista.


A história da minha vocação só foi possível porque Deus olhou para mim com misericórdia. Eu não perseverei até aqui por minhas próprias forças. É a paráfrase da vocação de São Mateus, quando Jesus viu “um publicano e, olhando para ele com sentimentos de amor, o elegeu e disse: siga-me”. Portanto, apesar das minhas fragilidades e de tudo o que ainda não consigo superar, Deus tem sido generoso abundantemente para comigo. Apesar das minhas fraquezas – e não são poucas – Deus continua segurando a minha mão, apostando em mim e caminhando comigo. Como ouvimos na Primeira Leitura, São Paulo, Apóstolo, precisou de ajuda das mãos de seus companheiros para poder chegar até Damasco, no momento do grande acontecimento que mudou os rumos de sua vida.


Voltemos à cena do meu quarto naquela tarde angustiantes de 2021. A desolação, o cansaço podem tirar-nos a esperança e nos meter num caminho de pessimismo e constante murmuração, como se Deus estivesse ausente e passivo em relação ao sofrimento. Eis que, não demorou muito e, meses depois, no fim da tarde de 14 de fevereiro, eu estava acompanhado da grandiosa presença de dois confrades, chegando numa formosa cidade de Minas Gerais para iniciar nova experiência de vida redentorista. Aos meus questionamentos Deus respondeu com um generoso presente: morar na Comunidade Redentorista de Juiz de Fora, uma “carícia de Deus”. Aqui, encontrei confrades acolhedores, sinceros, amorosos, altruístas, compreensivos, sábios e generosos e uma comunidade paroquial “forte na fé” e “fervorosa na caridade”. Quero, diante de Deus e desta comunidade eclesial reconhecer publicamente a copiosa graça de Deus que experimento neste tempo. Louvado seja Deus!

Quero aqui expressar minha alegria em poder celebrar aniversário de Profissão Religiosa no mesmo dia em que mais três grandes confrades da Província do Rio de Janeiro, também celebram.

- O Pe. Braz, homem do “silêncio mariano”, memória gigante, portador da história, humilde, generoso e fino, gentil, polido e de constante bom humor; disponível para partilhar os conhecimentos sobre quaisquer momentos da História; é um sinal visível de perseverança; é prova de que a vida Redentorista vale a pena; e no auge dos seus 94 anos, continua exercendo com fecundidade a sua missão como Missionário Redentorista.


- O Pe. Dalton também celebra hoje seus 67 anos de vida Redentorista. Sua presença nos aponta para a lucidez, a confiança, a generosidade. É um confrade de atitudes sábias e eloquentes, de palavra profundas, capaz de perceber as realidades pessoais e oferecer luzes em momentos de trevas. Pessoa de preciosa convivência, homem zeloso que aposta nas relações como fonte de cura às feridas da alma. Sua vida é uma perene ação de graças, quem com ele convive, recebe a luz de Deus.

- No último dia 20 de janeiro o Pe. Jonas Pacheco celebrou 10 anos de vida religiosa. Está no início de sua ação missionária. É um jovem Formador dinâmico, sonhador e muito perspicaz, competente e determinado. Damos graças a Deus pelos frutos do seu trabalho formativo e de tantas outras atividades que exerce na Congregação.

Finalizando, irmãos e irmãs, com a palavra mais importante deste momento: a vocação Redentorista. “Dies impendere pro redemptis” (“Gastar os dias pela redenção”). Santo Afonso fundou a Congregação para evangelizar as pessoas mais pobres e abandonadas, excluídas pela sociedade e pela Igreja. Um dia nós Redentoristas assumimos a missão de cuidar da salvação integral das pessoas, não apenas a salvação da alma, mas da pessoa humana inteira. Ao celebrarmos nossa perseverança na vida religiosa Redentorista, renovamos nosso compromisso de cuidar dos mais frágeis. E como gesto e símbolo desse chamado de Deus, pedimos a você 1kg de alimento não-perecível para nossas obras sociais. Sua doação é uma ação litúrgica de salvação. Como Redentoristas, promovemos e incentivamos a pedagogia da sensibilidade ao sofrimento do outro. Não se trata de uma caridade sem racionalidade, mas uma caridade profética, porque o verdadeiro Amor é inteligente e busca entender as raízes do pecado para extirpá-lo do mundo.


A caridade evangélica sacia a fome dos irmãos e pergunta: “Quem acumulou?”; promove o trabalho aos desempregados e pergunta: “Quem explorou?”; cura as feridas do corpo e da alma e pergunta: “Quem violentou? Quem abusou?”; doa a vida aos humilhados e pergunta: “Quem não perdoou? Quem não amou?” Que esta celebração nos comprometa ainda mais com os irmãos que sofrem, porque neles está o Cristo que nos chamou e a quem seguimos e reservamos nossas vidas e energias para exercer com fidelidade a Sua missão, gastando os dias pela salvação integral da pessoa.

Senhor, concede-nos a firmeza da fé para permanecermos seguindo os Teus passos, ao lado da Virgem Maria, Tua Mãe e nossa Mãe! Amém!

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