Era um dia quente, eu morava em
São Paulo. Já era fim de tarde; após algumas atividades, entrei no meu quarto,
soltei-me na poltrona e suspirei angustiado, como quem carregava uma montanha
nas costas. O peso já vinha de muito tempo, mas os compromissos de fim do ano pesavam
ainda mais os meus dias. Na penumbra das dores da alma, despojei-me das
armaduras da função de Formador e ousei questionar Deus: Deus, onde estais? Eu
já não consigo mais continuar! É por demais o meu cansaço! Muitos pedem e
recebem, e eu...? Até quando suportar a fadiga de algo que já não consigo mais
carregar? Ali sentado, cochilei, enquanto aguardava a hora da missa. O ano de
2021 foi o mais difícil que vivi. Por isso foi o ano da graça!
Os dias passaram e Deus não
passou, continuou a caminhar comigo. Hoje, estou celebrando os 25 de vida
religiosa Redentorista. Celebrar um
Jubileu é celebrar o tempo da Graça de Deus, rememorar os Seu braço poderoso agindo
na história, Sua mão amiga conduzindo o caminho. Hoje é dia de olhar a história
com o olhar da fé! Permanecer 25 anos na vida Redentorista só foi possível por
que Deus é bom e misericordioso.
Comecei minha caminhada formativa
no Seminário Santíssimo Redentor em 1993, em Sacramento-MG, exatamente Há 30
anos. Foi aí que descobri a graça de ser mineiro. Após seis anos de estudos e
discernimento, professei os Votos de Castidade, Pobreza e Obediência, assumindo
a espiritualidade Redentorista. Era 25 de janeiro de 1998. Mas, o desafio mais
importante veio depois: permanecer, perseverar é o desafio diário de toda
pessoa batizada e de todo missionário Redentorista.
A história da minha vocação só foi possível porque Deus olhou para mim com misericórdia. Eu não perseverei até aqui por minhas próprias forças. É a paráfrase da vocação de São Mateus, quando Jesus viu “um publicano e, olhando para ele com sentimentos de amor, o elegeu e disse: siga-me”. Portanto, apesar das minhas fragilidades e de tudo o que ainda não consigo superar, Deus tem sido generoso abundantemente para comigo. Apesar das minhas fraquezas – e não são poucas – Deus continua segurando a minha mão, apostando em mim e caminhando comigo. Como ouvimos na Primeira Leitura, São Paulo, Apóstolo, precisou de ajuda das mãos de seus companheiros para poder chegar até Damasco, no momento do grande acontecimento que mudou os rumos de sua vida.
Voltemos à cena do meu quarto naquela tarde angustiantes de 2021. A desolação, o cansaço podem tirar-nos a esperança e nos meter num caminho de pessimismo e constante murmuração, como se Deus estivesse ausente e passivo em relação ao sofrimento. Eis que, não demorou muito e, meses depois, no fim da tarde de 14 de fevereiro, eu estava acompanhado da grandiosa presença de dois confrades, chegando numa formosa cidade de Minas Gerais para iniciar nova experiência de vida redentorista. Aos meus questionamentos Deus respondeu com um generoso presente: morar na Comunidade Redentorista de Juiz de Fora, uma “carícia de Deus”. Aqui, encontrei confrades acolhedores, sinceros, amorosos, altruístas, compreensivos, sábios e generosos e uma comunidade paroquial “forte na fé” e “fervorosa na caridade”. Quero, diante de Deus e desta comunidade eclesial reconhecer publicamente a copiosa graça de Deus que experimento neste tempo. Louvado seja Deus!
Quero aqui expressar minha
alegria em poder celebrar aniversário de Profissão Religiosa no mesmo dia em
que mais três grandes confrades da Província do Rio de Janeiro, também
celebram.
Finalizando, irmãos e irmãs, com a palavra mais importante deste momento: a vocação Redentorista. “Dies impendere pro redemptis” (“Gastar os dias pela redenção”). Santo Afonso fundou a Congregação para evangelizar as pessoas mais pobres e abandonadas, excluídas pela sociedade e pela Igreja. Um dia nós Redentoristas assumimos a missão de cuidar da salvação integral das pessoas, não apenas a salvação da alma, mas da pessoa humana inteira. Ao celebrarmos nossa perseverança na vida religiosa Redentorista, renovamos nosso compromisso de cuidar dos mais frágeis. E como gesto e símbolo desse chamado de Deus, pedimos a você 1kg de alimento não-perecível para nossas obras sociais. Sua doação é uma ação litúrgica de salvação. Como Redentoristas, promovemos e incentivamos a pedagogia da sensibilidade ao sofrimento do outro. Não se trata de uma caridade sem racionalidade, mas uma caridade profética, porque o verdadeiro Amor é inteligente e busca entender as raízes do pecado para extirpá-lo do mundo.
A caridade evangélica sacia a fome dos irmãos e pergunta: “Quem acumulou?”; promove o trabalho aos desempregados e pergunta: “Quem explorou?”; cura as feridas do corpo e da alma e pergunta: “Quem violentou? Quem abusou?”; doa a vida aos humilhados e pergunta: “Quem não perdoou? Quem não amou?” Que esta celebração nos comprometa ainda mais com os irmãos que sofrem, porque neles está o Cristo que nos chamou e a quem seguimos e reservamos nossas vidas e energias para exercer com fidelidade a Sua missão, gastando os dias pela salvação integral da pessoa.
Senhor, concede-nos a firmeza da
fé para permanecermos seguindo os Teus passos, ao lado da Virgem Maria, Tua Mãe
e nossa Mãe! Amém!